quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Obituário

Enquanto eu entrava no corredor desesperado para ver seu estado, via pessoas esperando para que um lugar vagasse. Olhei para minha mãe e fiz um gesto afim de que entrássemos por uma porta grande e branca, infelizmente, alertou-me ela, apenas duas visitas por vez eram permitidas. Fiquei olhando para a grande porta branca, imaginei como seria ali dentro. Pessoas curadas, pessoas se curando, pessoas morrendo. Na verdade eram apenas pessoas, não importando sua classe, sua cor, pelo menos ali eram apenas pessoas. Observei uma pequena janela de vidro na parte de cima da porta, infelizmente estava tapada com folhas de papel. Imaginei então o ambiente, abrindo a porta, entrando, vendo macas com seus respectivos pacientes, enfileiradas, um clima ruim, via mais alguém lá, no canto do grande salão de macas. Ele estava sorrindo. Estremeci. Alguém abriu a porta, um enfermeiro saiu de lá, fiquei observando os detalhes antes que a porta fechasse novamente. Vi um quarto, com uma numeração em cima da entrada, não tinha porta. Imediatamente alguém falou que eu poderia entrar. Com cuidado desci uma pequena rampa que me levava a um corredor que se dividia em quartos. É o de número três, alguém me avisou. Ao virar no quarto deparei-me, logo na primeira maca, com a fragilidade do ser humano. Meu sangue não corria, a primeira sensação foi de espanto, logo veio o medo, o famoso medo do que desconhecemos, em seguida senti algo escorrer pelo meu rosto, levava minha mão à boca como sinal de espanto. Comia e respirava por maquinas. Estava vivo por misturas entrando em sua veia. Mandaram chamar alguém lá fora. Sai pela porta com os olhos abertos e com a face molhada. Lá dentro era frio, medonho. Afinal ele não estava lá, ou melhor, não pude vê-lo, mas senti sua risada amarga.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Em direção ao Paraíso

O céu estava branco
Branco claro vibrante
Ele estava no banco
Um cinza delirante

Ao caminhar pela estrada
Achou que era o fim
A vida estava desordenada
Vinha pra perto de mim

Sem saber o que fazer
Com a vida assim
Resolver se estender
Mais pra perto de mim

Sem eu perceber tudo
Fui chamado para perto
Ele estava mudo
E eu o encontrava no deserto

Rio - Caxambu

Saciava sua fome com um biscoito de pacote que carregava na mochila enquanto ainda estava esperando um ônibus, mas não demorou muito para que ele chegasse. Entrou desordenado, colocou o dinheiro separado do bolso na mão do trocador que tinha um olhar cansando, sem importância. Olhou em seguida para as pessoas, pareciam ter suas vidas esmagadas por um peso tão cruel que o mesmo, por pura maldade, deixou-as vivas. O único banco vazio se encontrava no final do ônibus, onde uma senhora estava sentada ao lado. Sumiu do mundo enquanto o ônibus andava, imaginava reencontros, um chegada rápida e uma volta acompanhada, imaginava sua casa com mais um integrante, imaginava sua vida transformada, imaginava sempre o melhor, o positivo. Ninguém tinha lhe contado a verdade sobre a crueldade do mundo. Na verdade já tinham falado de histórias, cuidados e atenções que deveria tomar, mas para ele eram apenas os vilões de sempre que poderiam ser derrotados com um herói qualquer, podia ter quinze anos, mas sua inocência era tão pura que seu rosto só liberava dez anos de vida.
Percebeu a senhora, a que estava ao seu lado, era a única ali que parecia estar sorrindo constantemente sem precisa de motivo ou, pelo menos, nenhum motivo que ali se encontrava.
- Com licença, você conhece a cidade de Arabutã?
- Arabutã filho? Não conheço não... Onde fica?
- Não sei, queria saber, preciso ir pra lá.
- Desculpe filho, não sei.
- Obrigado mesmo assim.
Voltaram os dois aos seus estados anteriores, mas a conversa foi retomada não durou muito tempo.
- Você sabe onde fica a rodoviária?
- Sim, eu estou indo para lá, vou te levar, tudo bem?
- Sim! - Teve um motivo a mais para sorrir, aparentemente estava tudo dando certo - Muito Obrigado senhora.
Seu estilo simples de falar comoveu o menino, era uma pessoa tão doce em suas palavras, sua expressão e no seu olhar.
- Vou voltar para meu marido em Minas Gerais, vinte anos que não o vejo.
Enfim, estava explicada a sua felicidade constante e sua esperança comovia o menino.
- Que bom! Eu também vou encontrar uma pessoa em Arabutã.
- Parece ser uma pessoa muito importante para você, está muito entusiasmado. - A conversa animada não parou.
- Estou sim! Não espero a hora de chegar até essa cidade!
- Guarde a euforia para o reencontro!
Os dois ficaram conversando sobre tudo o que poderiam imaginar, sobre os desejos, sonhos, habilidades e a vida.
Chegaram então à rodoviária, aonde saltaram e andaram até sua entrada principal.
- Aqui estamos, amiguinho.
- Obrigado e boa sorte!
- Mas onde está sua mãe?
- Não, não, vou ver minha irmã.
- Onde ela está?
- Em Arabutã.
- Com quem você vai? Sua mãe, seu pai?
- Ninguém.
Ela ficou em estado de pânico, sem saber o que fazer, sem saber o que falar.
- Como pretende chegar a essa cidade, amiguinho?
- Vou pegar um ônibus, não tem outro jeito. Preciso ver minha irmã, ela não pode ficar sem mim!
Estava começando a ficar desesperado ao perceber o olhar estatelado da mulher.
- Não! Seus pais sabem?
- Eu não tenho pais. Só temos eu e minha irmã.
Suas palavras foram frias e sem coração o que deixaria qualquer um triste.
- Você não me falou isso! Como irei te ajudar?
- Não precisa se preocupar, seu marido te aguarda.
- Deixe eu te levar até lá! Vamos comigo!
- Não se preocupe, eu pego um ônibus qualquer que vá para Arabutã.
- Deixe que eu te leve, vamos comigo até Caxambu, eu e meu marido te levamos até sua irmã.
Um desvio na sua viagem poderia ser a queda, poderia dar tudo errado, mas ele não sabia para onde estava indo, poderia se perder, poderia não chegar lá, talvez com a ajuda de uma pessoa mais velha ele conseguisse. Tudo isso passou tão rápido por sua cabeça que a resposta foi na mesma velocidade.
- Tudo bem.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Rio - Arabutã

Saiu de casa em uma noite quente, o ar da cidade estava sendo consumido pelos prédios. Parecia uma formiga diante do mundo. Colocou a mão nos cabelos, olhou para baixo e deixou sua mão cair. Ora como é o mundo, ora como é sua vida. Passava o tempo, ele esperava em frente ao prédio, esperava algo. Talvez idéias, talvez alguém. Os dois. Sua mochila de marca mostrava sua vida transformada, seu corpo na calçada mostrava mais uma mudança que chegava.
A primeira idéia veio à cabeça, a mais fácil por sinal, ir até uma rodoviária e pegar um ônibus que chegue até Arabutã. Então começou a andar. Andou, e depois de um bom tempo andando, parou, olhou para os lados, estava no Largo do Machado, já tinha andando o suficiente, mas ainda não sabia como chegar à rodoviária, deu uma espiada na rua e viu um homem no balcão de uma farmácia de esquina. Entrou na farmácia, olhou para os lados, demorou um tempo, pegou um creme dental, observou e colocou de volta na prateleira.
- Posso ajudar?
- Não, obrigado, só estou olhando.
Rodou duas vezes a farmácia, criando coragem e tentando se convencer que isso daria certo. Fitou o homem no balcão, chegou perto, fez um gesto com a boca e após soltar o ar resolver soltar as palavras.
- Eu queria... Bem... Queria saber onde fica a rodoviária... Digo, daqui, qual ônibus pego?
A expressão do homem demonstrou certa duvida, olhou para a rua, tentou lembrar-se de alguma coisa e arregalou os olhos. Ele lembrou.
- A Novo Rio?
- Acho que é.
- Bom, se for a Novo Rio você atravessa essa rua e pega naquele ponto ali em frente o um, sete, zero, mas também pode ser o um, sete, oito... - Apontava para a rua principal da esquina da farmácia, mostrando um ponto de ônibus em frente a uma galeria. - Ele para na rodoviária.
Olhou para o ponto, virou para o homem, agradeceu e voltou a andar, mas foi surpreendido.
- Tome cuidado por aqui. Tem muito pivete andando aí na rua, principalmente essa hora da noite.
- Pode deixar.
Continuou com alguns passos.
- Quantos anos você tem?
- Quinze. - Sorriu por educação. Estava com muita pressa e já estava andando novamente.
- Vai encontrar com sua mãe?
Ele parou, olhou fundo para o nada, a coragem começou a subir por sua veia. Ele sorriu e sem olhar para trás, respondeu.
- Vou encontrar minha irmã.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Analise III

Adoro lembrar o que aconteceu no passado, um exemplo disso são as duas primeiras analises, aonde eu busco principalmente as fragilidades, emoções e detalhes perdidos do que eu gosto de chamar de lembrança.
O passado é como uma lição escolar, em que você tem que fazer e tem dois casos diferentes, os que são feitos e esquecidos e o que são feitos e te ajudam a analisar o presente, no caso da lição temos a prova, no caso do passado, temos avaliações sempre.
Deixando o teórico de lado e pensando no que seria a vida sem isso acredito que não estaria aqui hoje, não aprenderia o que eu aprendi e com certeza, os erros, além de serem maiores, se repetiriam.
Comecei a escrever quando estava na terceira série. É claro, não escrevia bem, mas consegui gostar de uma tarefa escolar, escrever histórias para ganhar ponto em Português. Percebi em minhas primeiras poesias que eu conseguia expressar os meus sentimentos fortes de maneira fácil e ainda bonita. O que eu mais gostava de fazer era escrever músicas em meu diário, as letras e depois inventar a musicalidade para as mesmas. Não escrevia a parte musical só as letras que, para mim, era o mais importante. Se eu pegar os mesmos textos agora e tentar enfrentá-los de maneira musical, não conseguiria.
Triste aqueles que não têm meios de se expressar, seja por qualquer tipo de arte. Por motivos já explicados entrei na escola de música, o que para mim seria fácil, quando percebi que encarava aquilo como uma tortura, descansei, porque afinal dependia de tempo para pensar se minha relação com a música era o que eu esperava, na verdade era, só que tudo na vida é fruto de trabalho duro, esforço, me motivei novamente.
Voltando a minha terceira série: Poesia, descobri sozinho, por incrível que pareça. Não foi minha irmã que me apresentou, não foram meus pais ou alguém mais da minha família que me fez seguir algum dom, foi simplesmente descoberta, eu, eu mesmo e o meu amigo, o meu fiel amigo, a pessoa que fala comigo nos momentos de extrema importância, ou até quando não tenho nada para me ocupar, a que me ajuda a redigir textos e etc. Não! Não sou maluco, tem alguém, que não sou eu, que discuti comigo, debate, chamam de eu interior, chamam de auterego, eu chamo de Ele.
Nessa época eu sabia até demais (para uma pessoa da minha idade) questionar a vida, o significado disso, a resolução daquilo, a morte, a vida, de onde viemos para onde vamos, o que fazer quando crescer. Eu era chato, alias, sou. Não gosto das mesmas coisas que eu gosto. Ele está agora me dizendo para parar de escrever certas coisas por que se não eu serei considerado um insano. Pensei, penso, que as pessoas que acham isso.
Odeio perder o foco na analise.
Você, que não entendeu, não acompanhou ou não está nem um pouco interessado, pode então esquecer, eu faço isso para mim, no máximo as pessoas que me conhecem poderão entender o que se passa nesse meu mundo.
Tenho uma dica: Deixe a vida de lado e vá viver A VIDA.

domingo, 4 de outubro de 2009

Três Partes do Massacre

Sorria para um mundo novo
Um mundo do tamanho de um ovo
Sorria para o mundo lá fora
Quem viu, já foi embora

Venda a alma e eu acompanho
Venda o corpo e eu que ganho
Sua vida passada consagrada
Foi destruída por uma granada

Raramente te vi chorar
Ainda vai conseguir um lar
Raramente vive a vida
Desesperadamente em busca de comida
 
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