segunda-feira, 24 de dezembro de 2012

Feliz Natal

Todo homem bom sofre. Todo bom homem arca com as consequências.

Encontro-me em casa, de dia, os olhos estão frenéticos, correndo junto com os pés. Meu telefone toca, ela me diz coisas como querer passar o natal comigo, ficar ao meu lado.
“Feliz Natal”, ela diz.
Não falo nada, estou parado no meio da sala, com o telefone nas mãos, quieto. Alguém grita me dizendo para fazer algo, acho que é algo como arrumar o quarto, ou a mesa, não me lembro bem.
Eu não estou ocupado, mas ela desliga o telefone, não dei nenhuma resposta. Eu ando até o meu quarto e me jogo na minha cama.
Lá se vai uma tarde conspirada. Muitos vão embora, restam poucos, os que sobraram são a sobra, e eu estou com eles.
O telefone toca novamente, meu amigo me diz algumas coisas, fala sobre o natal, a família, a garota que é vizinha de seu tio. Tento aconselha-lo, mas não sei nada sobre o assunto, mesmo tendo passado por diversas situações parecidas, não sei nada sobre isso. Não estou mais triste, mas a conversa acaba.
“Feliz Natal”, ele me diz.
Aos poucos as coisas vão se formando, a mesa está arrumada. Lembro-me como se estivesse em um dia normal. É um dia normal.
Volto ao passado por alguns segundos, desejando serem minutos, talvez horas. Eu, com todos juntos, brindando, conversando, os presentes, a comida, a alegria de uma criança. Por que era tão mágico? Não apenas o natal, mas todo o resto.
“Feliz Natal”, alguém passava no corredor.
O segredo é esperar até meia noite. Não sei porque, mas as pessoas insistem em desejar feliz natal na véspera. O ritual de quando se é criança, não vejo isso no meu irmão, talvez esteja escondido, como estava comigo. Talvez o natal nunca foi desse jeito, talvez fosse apenas a “magia” de ser criança.
Então já é natal, não sinto nada. O que deveria acontecer? É um fato que se passou um ano do que aconteceu ano passado. A mesma coisa na verdade, mas esse é o único fato.
Nunca pensei que diria essas coisas que agora falo com tanta tristeza, mas, infelizmente, não vejo graça no natal, não nesse tipo de natal.
Eu lembro que eu ficava emocionado só de pensar que essa época estava chegando perto. Que maravilha era o natal.
Talvez tudo tenha mudado, mas acredito cada vez mais que sempre foi assim.
Vou para a janela, assisto fogos de artifício. Fogo de artifício no natal, uma coisa que só deve existir no Brasil, eu acho. Sinto alguém próximo de mim, e com a maior tristeza do mundo eu digo:
“Feliz Natal”.

2 comentários:

Astryd disse...

Que lindo! Muito bom o texto. Principalmente o final.

Feliz Natal, Thadeu.

Tami disse...

O problema são as expectativas.

 
BlogBlogs.Com.Br