segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Viajantes

Um segundo que se passa na sua mente é a imensidão de tempo que se passa lá fora. Ele estava certo disso. Pensava mais do que agia. Seu mestre? Um homem de arte e de derrota, muito derrotado, um mestre.
Pelos segundos que pairavam no ar João se sentia bem aquela noite, seu tutor levantava dando a entender que não fora atingido.
Erico se levantava calmamente para admirar os corpos estirados em sua frente. João tinha uma arma em sua mão e se sentia bem por não estar morto.
A noite estava mais escura naquele dia, mas o brilho das estrelas se intensificara.
Erico pegou a arma da mão de seu pupilo e supôs que aquilo tudo já estava terminado.

Jimmy era um americano canalha, chegara em terras latinas para se apossar dos tesouros. Dinheiro, bebida e mulheres. Andava com dois melhores amigos causando estragos em todo o país. Matando, roubando e estuprando. Jimmy era covarde, tal como Henry e Steve, mas se achavam corajosos. Achavam os latinos uma raça inferior, mas criticavam a atitude de radicais como os neonazistas. “Ganhamos a guerra”, pensavam eles.
Em um sábado de manhã saíram de um hotel. Se encontravam no interior, o grande interior do país. Estavam com fome e com sede.
Jimmy tinha uma arma. Queria usa-la naquele dia. Seu primeiro passo foi ir num bar, num humilde bar de esquina e pedir o famoso pãozinho para os seus amigos. “Cana”, disse para o garçom com um sotaque bem afiado.
O garçom levou três copos de cachaça, e três pães na chapa. Acabaram de comer e sem pensar duas vezes, Jimmy se levantou e deu um tiro no garçom. Houve gritos, Henry e Steve saquearam todo o caixa do bar enquanto Jimmy olhava maravilhado para suas vítimas. Matou todos, um a um.
Roubaram um carro na frente do bar, matando o motorista que tentou reagir, deixando Jimmy muito irritado.

João e Erico, especialistas, não policiais, mas justiceiros, entravam no bar no sábado de manhã, olharam todos mortos e o barulho da sirene.
”Não aqui…”, pensou Erico.
Pegaram o carro e foram andando, de bar em bar, loja em loja, esquina em esquina, todos mortos, todos eles. Tinham que fazer algo, precisavam fazer algo, seguiam se rastro.

Numa noite de sábado, naquela noite de sábado, Jimmy não queria perder nada. Uma pequena festa numa praça o chamava atenção, viaturas estavam ali, o que não queria dizer que não poderiam ir a caça, escolher uma e sumir com ela.
Jimmy, Henry e Steve se atreveram em uma linda jovem. Cabelos ruivos, não sabiam dizer se era pintado ou não. Magra, com a pele branca. Chamou atenção do bando. Eles a queriam.
Jimmy chegou tentando impressiona-la em inglês, ela não olhou ele nos olhos um minuto que fosse, estava parada, em seu canto, fumando e admirando algo no meio da multidão.
”What’s your name?”, Arriscou Henry.
Jimmy deu um tapa em seu peito furioso. Ele tocou em seus cabelos e disse num português muito pouco claro, “Você vem com a gente”.
Os três cercaram a jovem, e a levaram para um pouco longe dali, num parque mais deserto.
”Se eu fosse vocês, deixava a garota em paz”. Erico apareceu atrás deles. “Não entenderam?”
João não disse nada, ficou quieto com um olhar neutro penetrante.
Jimmy ficou furioso. Puxou o gatilho na direção de Erico.
Com Erico caído, João continuou sem expressão, calado.
”YOU! Vai querer também?”
João se irritara um pouco com o sotaque de Jimmy.
A garota estava desesperada, sendo segurada por Henry e Steve.
João, que estava com as mãos na cintura, estava, já de um momento para o outro, com uma arma na mão. Três tiros.

A noite estava escura, mas a lua brilhava. A jovem correu passando por João e voltando correndo para o parque, não olhou para João e nem para Erico.
Erico pegou a arma da mão de seu pupilo e supôs que aquilo tudo já estava terminado.
Quem era Erico e João? Erico já estava velho e João era seu filho. Não tinham permissão pra porte de arma e não eram daquela cidade.
Eram apenas viajantes.

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